A fábrica de gols no Central funcionou no lado errado
Fernando Lyra, antes de político, dirigente do Central (Foto: Blog de Edmar Lyra) |
Houve um momento em que o
Central precisou de um técnico. Depois de muito pelejar, num tempo de comunicações
precárias, a Patativa contratou um tal de Joaquim Belizário, desconhecido por estas
bandas. Embora fosse brasileiro, procedia do Deportivo de Cochabamba, Bolívia.
Joaquim chegou a Caruaru com
a cabeça cheia de esquemas táticos. A contratação de um treinador internacional
agitou a massa alvinegra. Fernando quase
fica rouco de tanta entrevista que concedeu às emissoras locais, fazendo a
apologia do novo técnico.
O homem assumiu numa quarta-feira e estreou no
domingo. Animado e curioso com a novidade, Roberto Lyra, o “aprendiz de cartola”,
fez questão de acompanhar a preleção no vestiário, antes de o time entrar em
campo. Ficou cem por cento otimista ao tomar conhecimento do plano tático
estabelecido pelo novo comandante. O esquema de Joaquim Belizário era
infalível. E arrasador.
– O time começa jogando com
o goleiro, que dá a bola ao lateral Adolfo.
Adolfo avança rápido e solta no meio pra Zito. Zito dá três passos e
estica pra Fernando Lima na esquerda. Fernando Lima levanta na área, Toinho
mete a cabeça, gol!
As tramas repetiam-se pela
direita, centro e esquerda, numa alucinante sucessão de investidas, às quais certamente
nenhuma equipe resistiria. Era como se fosse uma série de incursões aéreas em
plena guerra.
O irmão do diretor esfregava
as mãos sofregamente, já antevendo o que estava para acontecer. Finalmente,
graças à destruidora tática, a tendência era o Central se transformar numa
fábrica de gols.
Cada hipotética investida do
time de Joaquim Belizário terminava com a bola na rede. Uma fartura de gols,
pensou Roberto Lyra.
O jogo era contra o Santa
Cruz. Isso no tempo em que o Santinha fazia medo aos adversários.
Roberto dirigiu-se para seu
lugar no reservado da diretoria. Fez questão de guardar o segredo para si.
Ficou esperando os gols, que foram saindo, mas no outro lado. Quando o placar
já apontava quatro gols para o Santa e nenhum para o Central, o candidato a
cartola pegou o beco. Esperar mais o quê? Decepcionado e frustrado não quis esperar
o término do encontro. Deixou o então Estádio Pedro Victor e Albuquerque
subindo pelas paredes, de raiva. Ainda bem que não tinha contado nada a
ninguém.
Infelizmente, a fulminante
tática de Joaquim Belizário fizera efeito contrário.
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