O Náutico, uma grande família (4)

GILBERTO E GIVALDO



Texto de Lucídio José de Oliveira


Fotos: Arquivo do Blog


Uma das formações do Náutico em 1950. Em pé, Manuel Lopes (dirigente), José Mariano Carneiro Pessoa, o popular Palmeira (técnico), Sidinho, Lula, Azulão, Jaminho, Gilberto e     Dico; agachados: Carmelo, Ivanildo, Amorim, Alcidésio e Zeca. 

No momento em que os irmãos Edvaldo e Evaldo, na jornada do título de 1945, jogavam suas derradeiras partidas com o manto alvirrubro, estava surgindo nos Aflitos um garoto que ia dar o que falar. Gilberto Carvalho era o seu nome. Ficaria para sempre conhecido de todos simplesmente pelo nome de Gilberto. Franzino e de baixa estatura, o pequenino-grande Gilberto estava destinado ao sucesso. A ser o grande Gilberto. E foi. Desde o começo, desde a estreia no ano anterior, em 1944. Tão grande que teve que ser deslocado no ano mesmo de estreia, um garoto ainda, para a lateral esquerda na formação do selecionado estadual. Não podia era ficar de fora da disputa do Campeonato Brasileiro.

Dois monstros sagrados do nosso futebol, dois cracaços do América, Pedrinho e Capuco, tinham direitos assegurados no time, como médio-apoiador e centromédio, posições onde melhor fluía o futebol de Gilberto, feito de classe e talento. Fazer parte da seleção, só se aceitasse ser deslocado para a lateral esquerda. Topou a parada. Assim se conta como foi formada uma linha média destinada a ser famosa e para sempre lembrada pelo torcedor pernambucano: Pedrinho, Capuco e Gilberto.

 TRICAMPEÃO – No ano seguinte, Gilberto foi campeão pelo Náutico. Mas seu futebol já não cabia mais nos Aflitos. Levado pelo América do Rio Janeiro, por lá ficou um bom tempo. Retornando ao Náutico no final da década, foi tricampeão em 50-51-52, e depois de um ano em branco, campeão do Tricentenário da Restauração, em 1954.

Gilberto parou de jogar em outubro de 1956. Sabia tanto de futebol que logo, logo foi ser treinador. Técnico do Santa Cruz e do Central. Parou cedo infelizmente, a vida interrompida na flor da idade, vítima de doença na época incurável. No currículo, o título de campeão com o Santa Cruz, na disputa de um Torneio do Nordeste disputado em 1967, ainda não tido em conta de uma competição oficial.

Giba parou de jogar em abril de 1957. Giba era o apelido ­─ na imprensa era sempre Gilberto ─ com o qual os amigos, a torcida e os companheiros de time carinhosamente o tratavam. Seis meses depois de sua despedida, estreava no time principal do Náutico, na mesma posição que fora dele, no centro da linha média, um magricela que atendia pelo nome de Givaldo. Givaldo era irmão de Gilberto, ambos assinavam Carvalho no sobrenome.

 

Givaldo foi também campeão nos Aflitos. Campeão em 1960, no time dirigido por Gentil Cardoso. Jogava na zona de defesa. Foi quarto-zagueiro e lateral-esquerdo. Do meio-campo para trás. O irmão Gilberto consagrou-se por jogar do meio-campo pra frente, como centromédio ou médio-apoiador, volante como se dizia naquele tempo. Não confundir com o volante de contenção dos tempos atuais. Nada a ver. Gilberto era dono de um futebol criativo. O futebol feito de inspiração e da revelação para o inesperado. Um elo de ligação entre a defesa e o ataque. Aí, nessa função jogou como poucos. No melhor estilo do grande Zito, do Santos de Pelé e da Seleção Brasileira, bicampeã do mundo.

 

GIVALDO NA CACARECO – Mas foi Givaldo, tecnicamente uns furos mais abaixo que o irmão famoso, quem chegou mais longe. Coisa do futebol. Gilberto, foi cinco vezes campeão com o a jaqueta vermelha e branca, como já foi dito. Inúmeras vezes titular da seleção pernambucana. Givaldo foi campeão apenas uma vez. Em 1960. Mas Givaldo foi da Cacareco! E a Cacareco, a seleção pernambucana na passagem dos 50 para os 60, representou um dia o Brasil numa competição internacional. Aconteceu no Sul-Americano de Guaiaquil, no Equador, em dezembro de 1959. É quando Givaldo tem seu nome registrado como jogador da Seleção Brasileira, honra que o irmão Gilberto não teve. E isso sem dúvida conta ponto a favor de Givaldo.

 

Seleção Cacareco: em pé, o técnico Gentil Cardoso, Edson, Geroldo, Waldemar, Zé Maria, Servílio e Givaldo; agachados, Traçaia, Zé de Melo, Paulo, Geraldo e Elias 

Mas o que importa mesmo para a história do Náutico, é que Gilberto e Givaldo, praticamente jogando na mesma posição, um com vocação mais defensiva, Givaldo, o outro mais criativo, com um futebol mais desenvolto, Gilberto, ambos de sobrenome Carvalho, irmãos de sangue, foram encarregados num determinado momento da vida do clube alvirrubro e do destino dos dois, de darem prosseguimento à saga que fez do Náutico através dos tempos uma grande família.

 


 

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