HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA – Lenivaldo Aragão

 Apaixonado pelo Íbis, xingou o juiz e foi expulso do estádio   



Francisco Imperiano Filho, nascido na Paraíba, pernambucano por adoção, era o mais apaixonado torcedor do Íbis, o qual defendia com unhas e dentes. Fosse alguém falar mal do Pássaro Preto na sua presença...

A resposta era incisiva, enquadrando de uma só vez, Náutico, Santa Cruz e Sport:

– Podem gozar, mas já dei nos três.

Ele já não está entre nós, mas o 3 x 1 que o Íbis aplicou no Santa Cruz em pleno Mundão do Arruda, no Campeonato Pernambucano de 2023 reforçaria os argumentos de Chico.

Certa vez, com o Íbis perdendo por 1 x 0 para o mesmo Santa Cruz, Chico do Táxi, como era conhecido, ousou vibrar no meio da geral do Arruda, quando sua equipe fez um gol, empatando a partida. Alguns torcedores da Cobra Coral partiram para esganá-lo.

– Levei, mas também dei – gabava-se.

Foi salvo por Pantera Negra, um típico torcedor coral, tão apaixonado pelo Santa, como ele era pelo Íbis, e participante de competições de luta-livre.

– Se vocês matarem esse homem, acabam com a torcida do Íbis – afirmou Pantera, afastando o pessoal e ameaçando enquadrar quem ousasse se aproximar dele.

Chico dizia que, tirando o Íbis nada mais lhe interessava no futebol, nem mesmo a Seleção Brasileira. A não ser que um motivo muito superior determinasse o contrário, o Íbis jogando, lá estava Chico gritando os nomes dos jogadores, com os quais sempre convivia até nos treinos.

O mais das vezes seu táxi era utilizado para transportar o material e os jogadores do Pássaro Preto para o estádio, às vezes fora do Recife. O seu desmedido amor ao Íbis fazia com que fosse bastante respeitado.

Não foi o caso daquele domingo de 1972, quando o juiz do jogo, Gilson Cordeiro, mandou a polícia retirá-lo do estádio.

O caso passou-se assim: no Arruda disputava-se um clássico entre o Santa Cruz e o Sport. Enquanto isso, nos Aflitos, Íbis e Ferroviário jogavam com arquibancadas vazias. Valia a rivalidade entre os dois pequenos. No setor das cadeiras, um único torcedor, Chico. Que, a certa altura cismou com o juiz, achando que Sua Senhoria estava prejudicando seu time. Para xingá-lo. chamou-o de “vigia da casa de Rubem Moreira”, em alegação ao na época presidente da Federação Pernambucana de Futebol. É que vigia ou guarda-noturno costumava sair pela rua em plena madrugada, apitando para espantar ladrão.

Gilson Cordeiro, delegado de polícia, diplomado em direito, naturalmente, e em jornalismo, nem precisou procurar de onde partira o grito. Já conhecia a voz e sabia de onde vinha o xingamento. Sentiu-se ofendido na sua dupla autoridade, de árbitro e delegado. Convocou o chefe do policiamento e determinou a retirada daquele cidadão, que, sozinho nas sociais dos Aflitos, ousara provocá-lo.

Quando os policiais foram ao encalço do torcedor punido, um cabo que comandava a patrulha e que o conhecia, disse que lhe daria uma colher-de-chá. Poderia permanecer no estádio, desde que se comprometesse a ficar calado. Proposta recusada. Sem poder exercer o sagrado direito de ‘torcer’, preferiu ir embora.

O narrador Rubem Souza, de saudosa memória, que dava flashes sobre o andamento da partida, registrou o fato ao microfone da Rádio Clube de Pernambuco, de maneira irônica e engraçada:

– Neste momento, acaba de ser expulso do estádio o único torcedor presente ao jogo.

Comentários