O REPÓRTER E O "REI"

 


A foto é dos anos 60 e mostra o mano Paulo Moraes, ainda radialista, entrevistando Pelé numa das muitas vindas do Santos ao Recife. Época em que a maioria das delegações se hospedava no Hotel São Domingos, cuja entrada dava para a hoje maltratada Praça Maciel Pinheiro. O Peixe, claro era freguês do hotel. Geralmente, como lembra Paulo, depois do almoço, Pelé batia um papo com alguns amigos, e saía para atender a imprensa que o aguardava numa antessala na passagem para o restaurante. Bastava haver apenas um jornalista para o “Rei” atender cordial e pacientemente. Não precisava intermediário. Alguns radialistas e jornalistas ele já “manjava”, como costumava dizer, de tanto encará-los nas idas e vindas ou passagens pela Terra dos Altos Coqueiros. Sempre cordial. Aproveito para contar uma curiosidade.

Certa vez, o Santos programou um bate-bola na Praia de Piedade, quando ainda não havia tantas edificações como hoje, nem tubarões. Os peixeiros queriam dar uma mergulhada, o que na época era possível, mas longe de burburinho de Boa Viagem, por motivos óbvios. Treinamento leve na areia, à tarde, e depois, água. A tentativa de isolamento não evitou que moradores ou trabalhadores da área fossem chegando aos poucos para ver os craques de perto. Mas sem balbúrdia.

Eu ainda era do Diario de Pernambuco e precisava conversar com o técnico Antoninho. A fim de ganhar tempo, ele me convidou para voltar no ônibus da delegação. Fui conversando com o treinador até a chegada ao hotel e falando com alguns jogadores, inclusive o “Rei”, que saboreava um picolé de limão.

Em certo momento me aproximei do ponta-esquerda Edu, que estava para renovar contrato com o Peixe. Ao abordar o jogador que substituiu o campeão do mundo Pepe, na equipe santista, ele cismou com minha cara, mas em bons termos.

– De novo, cara? Tu já não me entrevistaste pela manhã e queres outra entrevista?

Matei a charada e expliquei a Edu:

– Tenho um irmão que trabalha na sucursal do Estadão (jornal o Estado de São Paulo), que acham parecido comigo. Deve ter sido ele que lhe entrevistou.

O jogador ficou meio desconfiado, mas mesmo assim me atendeu, numa boa. Na realidade, Paulo tinha ido ao hotel logo cedo cobrir o Peixe porque precisava mandar a matéria para o jornal, via telex, com antecedência.

 

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