Já sem Mirim, Leão perde o goleiro logo na estreia
A foto, publicada pelo Mundo Desportivo, de Portugal, foi feita num amistoso festivo contra o Bahia, quando o Sport ainda se preparava para a excursão. Nota-se a presença do homenageado e Ademir e de Mirim, que não viajaram. Vejamos: em pé, Carijó, Osmar, China Bivar, Oswaldinho, Mirim, Bria, Djalma, Zé Maria, Itamar, Pinheirense e Osvaldo; agachados, Ademir, Carlinhos, Traçaia, Naninho, Soca, Gringo, Ilo, Dario Souza e Geo. (Arquivo do Blog)
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O Sport, como foi visto em matéria anterior, sofreu um importante desfalque antes de embarcar para a Europa. O centromédio Mirim havia saído de uma festa no bairro do Engenho do Meio, seguia de bicicleta para casa, quando a bike foi atingida por um dos poucos bondes que naquele tempo, 1957, ainda circulavam pelo Recife e Olinda, transportando passageiros.
Distração de Mirim? Certamente. Ao procurar atravessar a linha férrea por onde
circulava o bonde, o jogador não notou que o “dono do pedaço” se aproximava. O
choque foi inevitável. O atleta, machucado, teve que ser conduzido para uma instituição de atendimento
de emergência, enquanto a notícia se
espalhava pela cidade, deixando transtornados o técnico Dante Bianchi e a torcida
leonina. A informação dada pelo departamento médico do Sport ao treinador foi
taxativa: o centromédio não tinha condições de viajar. A sorte é que o argentino
tinha solicitado à diretoria outro jogador para a defesa, diante da
possibilidade de alguém se machucar durante a maratona no exterior. O clube
adquiriu Servílio, tricampeão carioca pelo Flamengo em 1953/ 54/ 55. Depois da
excursão, o substituto provisório de Mirim voltou para o Rio, contratado pelo
Botafogo, tendo voltado posteriormente a jogar em São Paulo, seu Estado natal, vestindo a
camisa do São Paulo Futebol Clube.
DUELO DE LEÕES – Enquanto Mirim se tratava num
hospital, o time do Sport embarcava para o Velho Mundo. Foi chegar e jogar. Sem
tempo para descansar, iniciou a excursão imediatamente, atuando em Portugal,
tendo por adversário o poderoso
Sporting, de Lisboa. O Leão da Ilha e o Leão de Alvalade haviam se enfrentado
uma vez. Em 27 de julho de 1952, na Ilha do Retiro, o Sport, na época dirigido
pelo uruguaio Ricardo Diez, o mesmo da célebre excursão ao Centro-Sul entre
fins de 1941 e início de 1942, tinha derrotado
o Sporting por 2 x 1. Os gols do Sport foram marcados por Franklin e Jorge de
Castro.
Agora, jogando nos seus domínios, em 6
de abril de 1957, o Sporting, que caminhava para se sagrar campeão português da
temporada 1957 / 58, não perdeu a oportunidade de ir à forra, devolvendo aos leões
pernambucanos o 2 x 1 do encontro no Recife. Coube ao gaúcho Naninho a marcação do gol do time
pernambucano. O recém-contratado
Servílio atuou como zagueiro central, fazendo dupla com o lateral Bria,
conforme a disposição tática da época, e o médio esquerdo Pinheirense foi
improvisado como centromédio, posição em que o ausente Mirim pontificava. Um
público superior a 20 mil pessoas assistiu à partida, cujo resultado foi recebido com naturalidade pelos
visitantes. O Sport, no seu primeiro compromisso
naquele giro internacional, alinhou: Oswaldo Baliza (Carijó); Bria e Servílio; Zé
Maria (Pedro Matos), Pinheirense e Rubens; Traçaia, Naninho, Gringo (Ilo), Soca
(Dario Souza) e Geo.
UMA DESGRAÇA ATRÁS DA OUTRA – Não isso que se diz no dia a dia do
povão? Pois, o goleiro Osvaldo Baliza, egresso do Botafogo, dono absoluto da
posição no Sport, sofreu fratura de perônio logo na estreia leonina em gramados europeus. Nem chegou
ao fim do jogo, tendo sido substituído pelo seu reserva, o alagoano Carijó. Começara
e terminava ali, no tradicional estádio do Alvalade, o giro de Baliza pela
Europa e pelo Oriente Médio. Nem havia desarrumado sua bagagem direito e já recebia
a passagem de volta para a capital pernambucana.
A CHANCE DE MANGA – Passando a contar apenas com Carijó, o
Rubro-Negro tratou de arranjar outro goleiro. Porém, Bianchi não podia esperar.
Pediu para a direção do clube embarcar o jovem Manga, cria de casa, uma vez que
as dificuldades de comunicação, naquele tempo, não possibilitariam a resolução do
problema com a pressa que a situação exigia,
os dirigentes partissem para outra
solução.
Com a idade de 20 anos, o recifense
Hailton Corrêa de Arruda, saído do Arco-Íris dos
Coelhos, bairro central do Recife, para as equipes básicas do Sport era uma
grande promessa. Chamava atenção pelas mãos gigantescas, pela agilidade
e pelos saltos elásticos em defesas sensacionais. Com ele, o Sport havia se sagrado campeão pernambucano
juvenil em 1954 sem levar gol. Já tinha substituído Carijó num amistoso, na Ilha, em
que o Sport empatou com o Fluminense de Feira de Santana-BA por 2 x 2. Suas atuações
no campeonato de aspirantes, cujas partidas eram disputadas como preliminares do certame
de profissionais, entusiasmavam a galera leonina.
O Sport providenciou às pressas a
regulamentação de Manga, que na Europa passou a revezar com Carijó, mas com a
sequência de jogos terminou se tornando titular absoluto. Sua fama ganharia o
Brasil, até ele ter seu passe vendido, em ser vendido, anos depois, ao
Botafogo, do Rio, na mesma época em que o Sport venderia o atacante cearense
Pacoti ao Vasco. Manga acabaria chegando à Seleção.
Para dar mais força ainda ao ditado, o meia
Soca também sofreu uma séria contusão e passou a ser um mero turista, enquanto
se esperava a sua recuperação.
Para não ficar totalmente de braços
cruzados, enquanto fazia tratamento, ajudava o roupeiro e massagista Mathias.
– Lavagem de roupa na Europa é muito
caro e essa foi uma maneira de se fazer economia, afirmou o jornalista e
empresário de futebol Hélio Pinto.
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