Preso no quartel, o recruta Dufles não pôde mais defender o Náutico
Dufles, sorridente, e o penúltimo agachado na equipe de aspirantes do Santos. Pelé, com quem começou no Baquinho, é o segundo (Reprodução) |
Conta-se
que certa vez ele levou uma vaia da torcida do Marcílio Dias e respondeu baixando
o calção no meio do gramado. Noutra ocasião entrou numa briga enquanto esperava
o trem numa estação, com sua equipe.
Ao
chegar ao Recife para defender o Timbu, Dufles deparou-se logo com um problema.
Era refratário, ou seja, estava devendo o serviço militar e sem estar quite com
o Exército não poderia ser registrado na Federação Pernambucana de Futebol.
Assim, teve que servir à Pátria, mesmo com atraso de alguns anos. Dufles foi
lotado no quartel de Cinco Pontas, onde está hoje o Museu da Cidade do Recife.
Morava na pensão de Estelita, na Rua da Glória, bairro da Boa Vista, que
abrigava outros jogadores do Náutico.
Tudo
corria normalmente para Dufles, que, sendo jogador, gozava de algum privilégio
na caserna, pelo menos no que se refere às facilidades para sua presença nos
treinos. Também, naqueles tempos só se treinava uma vez por dia, o que já
facilitava tudo. Aliás, quem introduziu o hábito de treinamento em dois
expedientes em Pernambuco foi Duque, de várias passagens pelo Náutico, Santa
Cruz e Sport.
Boêmio,
Dufles podia ser visto todas as noites na vida alegre do Pina, tomando cuba-libre e ouvindo Agostinho dos
Santos, com quem se dava bem, uma vez que o cantor, adepto do futebol era
ligadíssimo ao pessoal do Santos. Estava sempre cercado de amigos e geralmente
pagava a conta. Dentro de campo ia agradando.
Aqui
uma formação do Náutico com ele no time: Waldemar; Jurandir, Zequinha Miná
(Lula), Givaldo (Nancildo) e Helmíton; Colorado e Gilson Costa; Mário, Geraldo,
Dufles (Maurício) e Elias (Fernando). Amistoso nos Aflitos em 26/5/1959, contra
o Fluminense, que se encontrava em excursão pelo Nordeste. Empate por 2 x 2, gols
de Dufles e Elias, o célebre Elias Caixão, para o Timbu. Arbitragem do
português Anísio Morgado.
Dufles
tinha uma irmã, doente mental, que vez por outra fugia de casa e dava aquele
trabalho. A família morava no interior de São Paulo, e certo dia chegou um
telegrama, pedindo a presença urgente do centroavante em casa. Mais um
desaparecimento da mana. Ele conseguiu licença de oito dias junto ao Náutico e
ao Exército, passou do prazo. e em vez de avisar aos seus superiores no
quartel, não deu a mínima. Com o clube foi fácil resolver. O quartel não tinha
qualquer informação dele. Dias depois, o Exército tomou conhecimento de sua
volta pelo noticiário do Náutico que saía nos jornais, com ele em atividade. E
nada de Dufles se apresentar.
Um
belo dia, o ex-companheiro de Pelé ainda estava tomando o café da manhã, na
pensão, quando foi agarrado por uma patrulha. Pelas leis da caserna foi
considerado desertor e pegou um ano de cadeia. O Náutico teve que procurar
outro centroavante. Adeus bola, adeus vida noturna do Pina, adeus, cuba-libre. Cheguei a visitá-lo na cela
onde cumpria a pena, em Cinco Pontas. Depois que foi solto deu nos calos e
nunca mais se ouviu falar nele.
Nascido
em 1938, em Bauru, Dolphe Jerônimo Adalberto do Couto morreu em novembro de
2004, com 66 anos.
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