HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 



 

Técnico por dois jogos entrou para a história do Timbu



 

Em 1960, o Náutico tinha um departamento autônomo de futebol formado por cinco Josés, à frente, José Porfirio de Andrade Morais, mandachuva do Banorte; José Vieira de Moraes, comerciante, conhecido na intimidade como Zé do Queijo; advogados José Carlos Dourado e José Cordeiro de Castro (Coca); e o agrônomo José Lessa. Orbitando em torno deles, José Luiz Vieira, o conhecido Cara de Gato. O “pajé” Eládio de Barros Carvalho, que na mocidade tinha sido goleiro do terceiro time do Alvirrubro e mais tarde treinador, só fazia assistir aos jogos, sem dar o mínimo pitaco na área.

O Timbu tinha sido campeão em 1954 e dali em diante ficou vendo o título se dividir entre Sport e Santa Cruz. O uruguaio Ricardo Diez vinha comandando a equipe, desde uma parte do campeonato de 1959, ganho pelo Santa Cruz. O certame de 1960 fluía, e a timbuzada não tinha muita esperança na sua equipe. Em dado momento, o treinador sofreu um problema cardíaco, passou alguns dias internado, e os dirigentes acharam que deveriam contratar outro treinador. E pouco depois Diez era contratado pelo Santinha. Mas isso é outra história. Em dois jogos, o time foi duplamente dirigido por Schiller Diniz, assistente técnico e pelo treinador do juvenil, Alexandre Borges. Enquanto isso os Josés buscavam o substituto de Dom Ricardo, como muitos tratavam o uruguaio. Havia pressa, uma vez que logo o time teria um clássico decisivo com o Sport. Osvaldo Brandão e Ely do Amparo foram inutilmente procurados. E o campeonato correndo. Depois de uma goleada de 9 x 1 sobre o lanterna Asas, que representava a Aeronáutica, veio um empate por 3 x 3 com o Ferroviário, que serviu de alerta. Apressado, o Náutico foi descobrir o treinador que tanto procurava, no interior de Minas Gerais. Chamava-se Sávio Ferreira. Havia dirigido o São Cristóvão e o Bonsucesso, no Rio. Esta era sua referência maior. Embarcaram o homem às pressas. Tratava-se de um desconhecido. Tanto que o vespertino Diário da Noite, chegado a um carnaval, abriu uma página de fotos, anunciando a chegada de SÁLVIO Ferreira. Sávio só teve tempo de comandar um treino. No domingo, no Clássico dos Clássicos, nos Aflitos, ficou atrás da barra do lado do Country Club, como era de praxe, vendo o Náutico empatar por 2 x 2 com o Sport (Geraldo e Afonsinho-Nau, Osvaldo e Bentancor-Spo). Festa na sede alvirrubra. Sávio foi muito cumprimentado pela conquista do turno.

No domingo seguinte, ele dirigiu o time num empate por 3 x 3, com o Santa Cruz, num amistoso festivo, nos Aflitos, com orquestra de frevo e muito barulho, na comemoração da conquista do turno. No outro dia, o treinador recebia a recompensa pelo seu trabalho, o muito obrigado dos Josés e a passagem de volta para a Cidade Maravilhosa.

Mais do que depressa, o clube dos Aflitos acertava a vinda de Gentil Cardoso, o primeiro negro a atuar no futebol alvirrubro, campeão do

ano anterior, com o Santa Cruz. Com o Homem do Boné, o Náutico tirou o pé da lama.    

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