O MILÉSIMO GOL

 



  Valdir Appel

 

 



Pelé sempre foi um iluminado. Inspiração rara, técnica, arte e um físico privilegiado. E, jogando no Santos ao lado de talentos únicos, como Edu, Pepe, Zito, Carlos Alberto, tornava a sétima arte um espetáculo que só um Maracanã de 200 mil lugares era merecedor de receber, desde que o adversário fosse o glorioso Botafogo de Garrincha, Didi e Nilton Santos.

Não que o Santos não desse espetáculo onde quer que Pelé fosse.Mas basta olhar o nosso pobre campeonato brasileiro, para reconhecer que um jogo Santos e Botafogo daquele nível e beleza só teria espaço para ser jogado no Maracanã, hoje, com aquele público, ingressos vendidos com três meses de antecedência, ocupando espaço na mídia só dado a uma apresentação do balé Kirov.

Os espetáculos que o clássico Santos e Botafogo produziam, chegavam ao conhecimento dos fãs, pelo rádio, jornais atrasados e pelo canal 100, que abria as sessões de cinema no interior.Só a música tema do canal 100 já levava a platéia à loucura.

Aqueles shows, protagonizados pelas companhias de Pelé e Garrincha, nos dias de hoje, seriam tão incomuns, que empresários do mundo artístico os transformariam em turnês que seguiriam mundo afora, se apresentando para platéias extasiadas, que ouviram histórias, que sempre soaram como fábulas inventadas pela fértil imaginação dos seus pais, apaixonados pelo futebol.

Os shows teriam seus ingressos disputadíssimos, custariam fortunas e fariam a alegria dos cambistas nos dias de apresentação.Os espetáculos seriam editados em DVDS e vendidos no mundo inteiro aos apreciadores de uma arte tão pouco praticada hoje, que deu lugar à evolução tática do chegar junto, o empate fora é bom negócio, zagueiro não pode perder viagem, é preciso marcar.A técnica do atleta passou a ser o melhor preparo físico e a escalação depende de quem tem mais velocidade.

E, não foi por acaso, que Deus quis que Pelé fizesse o seu milésimo gol no Maracanã.Bem que ele teve oportunidade de faze-lo em Salvador, Paraíba e outros estádios.Mas, tinha que ser no templo, contra o Vasco, no goleiro Andrada, na quarta-feira.Afora a ajuda divina, tivemos a “força” do juiz Manoel Amaro, que também queria entrar para a história, e dos cartolas do Vasco que mandaram fazer uma camisa cruzmaltina com um 1.000 nas costas.

Bom, naquele tempo, também havia as maracutáias, que somada aos desejos dos torcedores de ver seu time ganhando do maior rival, até com gol impedido e com a mão, soa para os dirigentes de hoje, como tirar doce de criança.

 

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