Com torcida única, clássico perde em alegria e festividade

 

Santa Cruz x Sport, dois clássicos de uma torcida só (Foto: Reprodução)


 

LENIVALDO ARAGÃO  



 

Começam neste fim de semana as semifinais de mais um Campeonato Pernambucano. Os centenários Náutico (1901), Sport  (1905) e Santa Cruz (1914) estarão em campo ao lado do novato Retrô (2016), dando início ao esperado epílogo do Estadual 2024. Neste sábado (9), o Arruda sedia o tradicional Clássico das Multidões, envolvendo Santa e Sport; neste domingo (10), Náutico e Retrô medem forças nos Aflitos.

Além da natural expectativa entre os que acompanham a competição, ao vivo ou pela mídia, um item de peso passa a fazer parte do cenário que envolve o torcedor. É a apreensão pelo que possa acontecer, não exatamente dentro de campo, com as redes balançando ou deixando de balançar. Mas fora das quatro linhas, perto ou a quilômetros de distância do local do evento.

Acompanhei o noticiário a respeito do plano de segurança arquitetado para o clássico. Policiamento nos jogos de futebol, mais ainda nos grandes espetáculos, sempre existiu, até mesmo num antigo Íbis x Santo Amaro, que não atraía ninguém. Porém, nos tempos atuais, a Polícia Militar ao estabelecer seus passos estratégicos parece estar se preparando para uma guerra, sendo utilizados 818homens. Com motivos reais para fazê-lo, é bom que se diga, e não apenas por pura demonstração de força.  

Infelizmente, há décadas, o lindo espetáculo proporcionado por duas torcidas em jogo de casa cheia, vem se tornando um acontecimento perigoso. Um clássico como este, no Arruda, poderia estar aberto a gregos e troianos. Todavia, só uma parte do público, no caso, o povão do Santa, o dono da casa, poderá se espraiar pelas arquibancadas do Mundão, levando o incentivo àqueles que estarão defendendo o seu Santinha. Aos adeptos do Sport, mesmo os que moram pertinho do estádio, é vetada a presença no grande momento futebolístico. O mesmo acontecerá, no sentido oposto, daqui a uma semana, quando o segundo jogo se realizar na Arena de Pernambuco, tendo o Sport como mandante.

No Arruda, os jogadores do Sport certamente sentirão falta do abrasador “cazá-cazá-cazá”; na Arena, os atletas corais estarão privados do “tri-tri-tricolor” que tanto lhes encoraja. Um e outro grito de guerra dão vida e palpitação ao espetáculo no duelo entre as duas torcidas, uma procurando abafar a outra.

Quando as chamadas torcidas organizadas surgiram, de maneira ordeira e até tímida, jamais sem a arrogância e a beligerância da atualidade, foram recebidas como mais um componente de apoio e de alegria no futebol. Entretanto, com o tempo foram passando os pés pelas mãos, permitindo a presença de elementos nefastos que não queriam apenas se divertir, pois suas intenções eram no sentido de dar vazão ao extinto perverso que carregavam dentro de si. O mal foi dominando o bem, sob o incentivo ou a mansidão de dirigentes, muitos deles com interesses políticos, diretos ou indiretos. 

E as autoridades manietadas na sua obrigação de dar um cobro na violência que ia tomando conta avassaladoramente dos estádios ou de suas cercanias, por falta de leis que lhes dessem cobertura. A atual legislação é muito frágil, pelo menos no que se refere à necessidade de combater esse malefício que, de maneira criminosa, se enraizou no futebol brasileiro em geral.  O resultado é um clássico como este sem todo aquele esplendor que marca uma rivalidade – não inimizade – de mais de um século de existência.


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