Edson, Estácio, Taurino, Osvaldo Salsa, Fernando Carvalheira, Salsinha, João Manoel, Artur Carvalheira, Zezé Carvalheira, Rafael e Epaminondas (Arquivo do Blog) |
Campeão no aniversário com uma sonora goleada
LENIVALDO ARAGÃO
O futebol pernambucano começou a
funcionar de maneira institucional a partir de 15 de junho de 1915, com a
fundação da Liga Sportiva Pernambucana. Naquele ano foi disputado o primeiro
campeonato estadual. Iniciada em 1º de julho, a competição terminou em 12 de dezembro, tendo como campeão o
Flamengo e vice-campeão o Santa Cruz. Este, aliás, é o único clube a ter
participado de todas as edições do estadual até hoje. Tomaram parte na primeira disputa, além de Flamengo e Santa,
João de Barros, que depois teve seu nome mudado para América, Peres e Torre.
Os jogos realizavam-se na Campina do
Derby, mas como houve um triangular final, ou supercampeonato, o local dos
encontros passou a ser o British Club do Recife, na área onde hoje fica o Museu
do Estado, no bairro das Graças. Isso possibilitou a cobrança de ingressos, uma
vez que as partidas no Derby eram realizadas em campo aberto. Em 1916, na
segunda disputa do campeonato entraram o
Náutico e o Sport.
O primeiro título de campeão obtido pelo
Náutico foi o de 1934. Como o Campeonato Pernambucano só terminou no ano
seguinte por causa de adiamentos, jogos interrompidos e motivos outros. Até então, o grupo dos campeões tinha Sport
(7 conquistas), América (5), Santa Cruz (3), Torre (3), e Flamengo (1).
Quis o destino que o Alvirrubro
estreasse na honrosa galeria justamente
no dia 7 de abril de 1935, quando festejava o 34º aniversário de sua fundação.
Um motivo para a torcida do clube
aristocrático, como o Náutico era tratado na imprensa, fazer explodir de
alegria o estádio da Avenida Doutor Malaquias, pertencente ao Sport e
localizado onde está hoje a AABB – Associação Atlética Banco do Brasil.. O técnico era o paulista Joaquim Loureiro, substituto do prestigiado
uruguaio Umberto Cabelli, primeiro treinador do Timbu na era do
profissionalismo, na época, recém-implantado no Brasil.
O JOGO HISTÓRICO
No
seu livro “O Náutico, a bola e as lembranças”, cuja segunda edição teve a capa
ilustrada por Abelardo da Hora, que levou para o papel todo o sentimento que
nutria pelo clube dos Aflitos, o médico e escritor Lucídio José de Oliveira
assim descreve a primeira grande conquista alvirrubra:
“...
Na verdade, de acordo com a tabela, o certame deveria ter sido encerrado em
dezembro. Náutico e Sport fariam o último jogo do turno final no domingo, dia
16. Restaria ainda um outro domingo livre, antes das festas de fim de ano,
reservado para a decisão, no caso de ser necessário jogar-se uma extra, caso
ocorresse um empate na primeira colocação. Acontece que algumas partidas, como
aquele Náutico x Encruzilhada do início do certame, não tinham sido concluídas
por razões as mais diversas, desde a falta de luz, tornando impraticável o
futebol no lusco-fusco do entardecer, até os casos de indisciplina
incontrolável, diga-se também corriqueira, dos idos dos anos trinta. E esses
jogos inacabados teriam de ser completados, era uma exigência do regulamento.
Até mesmo o clássico Náutico x Sport, o jogo final da tabela, não havia chegado
ao fim. O time alvirrubro vencia por 2 x 1. Era um jogo decisivo, uma partida
oficial.
É
que dali poderia até mesmo sair o campeão do ano, em caso de vitória do Sport.
O time leonino estava um ponto atrás do Santa Cruz, até um empate lhe servia.
Ao Náutico, com 19 pontos na tabela, só a vitória interessava. Ficaria em
igualdade de condições com o clube tricolor, com quem teria de decidir tudo num
jogo extra. Mas o clássico entre alvirrubros e rubro-negros acabou em bagunça.
A pancadaria comeu solta. Houve muita baderna. Um juiz totalmente perdido, e
mais um jogo do certame de 34 ficaria paralisado.
Chegou
a ser divertido. O árbitro escalado, o senhor Harry Lessa, bem que tentou levar
a peleja adiante, mas não conseguiu. Foi então substituído pelo senhor Eduardo
Antunes, numa tentativa de dar um jeito à bagunça, mas este também não foi
levado em conta. Foi tão abertamente desobedecido e desrespeitado, que teve de
assistir, impotente, aos jogadores abandonarem o campo carregando consigo a
única bola do jogo. Um absurdo. A tarde caiu, ficou escuro de vez, ninguém mais
enxergava a bola. Nada mais restava ao árbitro fazer ali. Futebol já não era
mais possível naquele dia. O jeito era todo mundo – jogadores, autoridades,
torcedores – voltar para casa. E faltavam apenas pouco mais de cinco minutos
para o encerramento da partida.
Esse
jogo gerou uma crise daquelas. Teve que ser disputado de novo, inteirinho. Foi
o que decidiu o Tribunal. Antes, porém, logo no início do ano de 35, outros
jogos do certame, que não tinham igualmente chegado ao fim, tiveram que ser
concluídos. Não haviam sido anulados , como o clássico Náutico x Sport, mas
teriam que ser completados, o regulamento era claro.
Desse modo, no domingo 6 de janeiro, logo após
a virada do ano, o time do Náutico teve que voltar a campo para terminar dois
de seus jogos suspensos no finalzinho. Uma coisa realmente curiosa. Numa
programação divertidíssima, mas séria, que constava de vários pedacinhos de
jogos – oito, dez, doze minutos – os timbus cumpriram sua obrigação de terminar
seus dois jogos inconclusos, aquele contra o Encruzilhada e o seu jogo contra o
Flamengo. O Encruzilhada, que perdia por 4 x 2, quando o jogo foi interrompido,
fez mais um tento, mas terminou assim mesmo, derrotado; contra o Flamengo
também não houve alteração na contagem dos pontos do Náutico, que estava
apanhando de 2 x 1, tomou mais um gol nos poucos minutos que foi obrigado a
jogar. Saiu de campo derrotado do mesmo jeito. De nada havia adiantado disputar
mais aqueles minguados minutos. Era apenas divertido, além de uma exigência do
regulamento.
Quanto
a Náutico x Sport, foi marcada outra partida, o jogo foi anulado por inteiro.
Depois da guerra de bastidores, muitas reuniões, notas, declarações pelos
jornais, finalmente é marcada a nova
peleja, campo da Avenida Malaquias, palco de grandes jogos, domingo 31
de março.
Estava
escrito que aquele seria, finalmente, o ano do Náutico: a vitória de dezembro,
o apertado 2 x 1 contestado pelo Sport, seria amplamente confirmada, agora por
meio de sonora e inequívoca goleada, a maior que o Náutico jamais conseguiu
impor ao seu mais ferrenho adversário: 8 x 1. E lembrar que a vitória daria o
título ao Sport!
A
goleada deixou toda a cidade boquiaberta. Fernando (3), Artur (2), Estácio (2)
e Zezé (10) foram os autores dos gols, os autores da lavagem histórica. O
Náutico, com mais dois pontos, totalizando 21, havia encostado no Santa Cruz.
Teriam agora que jogar uma extra. Alvirrubros e tricolores foram, então, para a
ansiosamente aguardada decisão.
Naquele
domingo de muita festa no campo da Avenida Doutor Malaquias, o Náutico levou a
melhor sobre o Santa Cruz por 2 x 1, obtendo seu primeiro título e evitando o
tetra que o Tricolor do Arruda perseguia após ter feito a festa em 1931/32/33.
Arbitragem de Manuel Pinto, e gols marcados por Fernando e Estácio (Nau) e Tará
(San).”
IRMÃOS CARVALHEIRA E SALSA
O
Náutico teve como destaque ao longo da jornada, o trio Carvalheira, formado
pelos irmãos Artur Fernando e Zezé. Ao mesmo tempo contou com os irmãos Osvaldo
e José Salsa, este conhecido como Salsinha. O time campeão, o da vitória na
final sobre o Santa foi este: Epaminondas; Salsa e Salsinha; Taurino, Edson e
Rafael; Zezé, Artur, Fernando, Estácio e João Manuel.
Fernando, Zezé e Arthur, os irmãos Carvalheira |
Outros
jogadores que participaram da maratona alvirrubra foram:
Goleiros
– Lula e Victor
Zagueiro
– Guimarães
Médios
– Pereira, Portela, Periquito e Hélio
Atacantes
- Lula II e Moreno.
O
Náutico realizou 15 jogos, com 11 vitórias, 1 empate e 3 derrotas.
O
campeão assinalou 55 gols e levou 28. Foi do Náutico, o principal artilheiro do
campeonato, o centroavante Fernando Carvalheira, com 28 gols.
Primeiro
Turno
1934
01/05
NÁUTICO
4 x 3 Encruzilhada, Aflitos. Gols: Estácio (2), Fernando e João Manoel
20/05
NÁUTICO
7 x 3 Íris, Aflitos. Gols: Fernando (3), João Manoel (2), Estácio e Zezé
10/06
NÁUTICO
7 x 2 Torre, Aflitos. Gols: Fernando (5), João Manoel e Estácio
17/06
NÁUTICO
0 x 2 Santa Cruz, Aflitos
22/07
NÁUTICO
4 x 2 Flamengo, Aflitos. Gols: Fernando (2), Artur e João Manoel
29/07
NÁUTICO
2 x 2 Sport, Aflitos. Gols: Fernando e João Manoel
19/08
NÁUTICO
3 x 1 América, Jaqueira. Gols: Fernando (2) e Zezé
Segundo
Turno
02/09
NÁUTICO
3 x 2 Íris, Jaqueira. Gols: Fernando (2) e João Manoel
04/11
NÁUTICO
1 x 3 Flamengo, Jaqueira. Gol: Fernando
15/11
NÁUTICO
5 x 2 Torre, Av. Malaquias. Gols: Fernando (2), João Manoel, Zezé e Taurino
18/11
NÁUTICO
6 x 1 Encruzilhada, Av. Malaquias. Gols: Fernando (3), João Manoel (2) e Artur
25/11
NÁUTICO
0 x 2 Santa Cruz, Jaqueira
08/12
NÁUTICO
3 x 2 América. Gols: Fernando (2) e Osvaldo Salsa
1935
31/03
NÁUTICO
8 x 1 Sport, Av. Malaquias. Gols: Fernando (3), Artur (2), Estácio (2) e Zezé
EXTRA
07/04
NÁUTICO
2 x 1 Santa Cruz, Av. Malaquias. Gols: Fernando e Estácio.
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