HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 


 

 
Sivaldo Trabuco, Müller e o juiz mouco


 
Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão de 1988. No Arruda, o Náutico enfrenta o Valeriodoce-MG. Jogo equilibrado. O Timbu em cima, mas o Valério resistia.
            O árbitro era o maranhense Nacor Arouche, que estava cometendo muitas falhas. Alguém do Náutico deveria fazer uma reclamação ao homem, que vinha prejudicando sensivelmente a equipe alvirrubra. Pelo menos era o que achava o ponta-esquerda Sivaldo, a quem o técnico Ênio Andrade tratava por Trabuco, face à sua impetuosidade dentro de campo. Preocupado, Sivaldo pediu ao capitão do time, Müller (foto), para dar uma encostada no homem: “O juiz tá errando muito, Müller, fala com ele.”
            O catarinense Ademir Müller que, depois de descalçar as chuteiras, virou treinador, seguiu a orientação do companheiro, mas suas palavras perdiam-se ao vento. Nacor Arouche não dava a mínima. E Sivaldo insistindo: “Tem que gritar, Müller, porque o homem é mouco.”
            Müller bem que protestou algumas vezes, mas suas tentativas nesse sentido continuavam infrutíferas. O capitão terminou ficando na sua, evitando se expor muito perante o árbitro, que poderia reagir à sua implicância, mostrando-lhe o cartão vermelho.
            Terminada a partida, alvirrubros no vestiário comemorando mais uma vitória e rememorando alguns lances. A arbitragem também foi abordada. Müller disse a Sivaldo que não entendia o que ele queria ao dizer que o juiz era mouco. Achava que era algum apelido depreciativo e não quis usar aquele tratamento ao dirigir-se ao mediador. Müller simplesmente não entendia que mouco, uma palavra utilizadíssima no Nordeste, é sinônimo de surdo.
            “Por que você não me explicou isso durante o jogo?” – replicou Müller, depois de concluir que passou o tempo todo estragando seu ‘latim’ diante da mouquice de Nacor.
 
 
 

 

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