Campeonato Brasileiro Série B

 

Foto: Reprodução


PASSARÁS



CLAUDEMIR GOMES



 

“O Sport tem um por cento de chance de acesso e noventa e nove por cento de esperança”.

Desconheço o autor da frase que ouvi durante um almoço com os rubro-negros Severino Otávio (ex-presidente do Sport), Ricardo Brito e Humberto Araújo, na última quinta-feira. A advertência aos incrédulos soava como convocação àqueles que nunca perderam a esperança. Afinal, “sonho que se sonha junto se torna realidade”. E a força do pensamento coletivo foi a chancela do passarás numa combinação de resultados que poderia resultar no tudo ou no nada.

A caminho da Ilha do Retiro, o sertanejo Bernardino Magalhães, fiel às suas crenças, sentencia com a confiança que lhe fora repassada pelo “jogo” aberto na mesa da casa da Madrinha. “O Sport se classifica!” Mais um sinal de que a força do pensamento seria o grande instrumento do “passarás”.

Sobreviver à combinação de resultados é um dos maiores desafios do futebol. Afinal, o sucesso não depende apenas do jogo dentro das quatro linhas. Uma série de fatores conspira a favor e contra. E nos bastidores, onde nada se vê, tudo pode acontecer. Só não pode fazer churrasco com bois e cabritos que são sacrificados para assegurar o passarás. Em tempos de Bets o misticismo segue vivo nos corredores por onde desfilam os “gladiadores”.

Quatro torcidas esperançosas; quatro clubes com chances de acesso, mas apenas um com noventa e nove por cento de esperança: o Sport. Motivo: era o único dos esquadrões que iria a campo escudado no talento do jogador mais virtuoso da competição, Lucas Lima. E o time da Ilha do Retiro não mediu esforços para bancar sua presença em campo. Afinal, no “jogo da esperança”, quem tem um ponto de desequilíbrio tem o máximo.

Isso mesmo! Lucas Lima quando entrou em campo foi saudado como os romanos saudavam Maximus, o maior dos gladiadores. E ele captou a mensagem. Jogou o máximo de seu futebol. Fez acontecer e colocou seu nome na história de um dos maiores clubes do Nordeste brasileiro. Marcou dois gols, e só não anotou um “hat-trick” porque, equivocadamente, abriu mão de bater um pênalti que ficou sob a responsabilidade de Barletta, e o goleiro do Santos, Gabriel Brazão, defendeu.

Mas, com o placar de 2 x 1 a favor, o passarás se concretizava para o Sport. O encantamento tomou conta da torcida rubro-negra, que fez um carnaval particular na sede do clube, seguindo a liturgia das grandes conquistas. O Carnaval da Esperança fez surgir na chaminé da Ilha do Retiro uma fumaça branca, prenúncio de dias melhores.

Sabemos que, em clube de futebol a paz, total e irrestrita, nunca reinará por conta do componente emoção, mas uma conquista acalma os ânimos. Antes de assegurar sua passagem para a elite do futebol brasileiro, o Sport caminhava sobre uma linha tênue que separava o céu do inferno. Se sobe: palmas para o presidente Yuri Romão. Se não conseguisse o acesso: joguem bosta no Yuri! O presidente dormiu o sono dos justos.

O sol brilha intensamente na manhã recifense, onde um barulho ensurdecedor toma conta da cidade com a indagação: “O SPORT SUBIU, FOI?”

 

 

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