MUNDO DA BOLA – Lenivaldo Aragão


 

(Foto: Arquivo)


A mancada do goleiro Valter em plena ceia de Natal no tempo da Seleção Cacareco



 

Quando representou o Brasil num Campeonato Sul-Americano Extraordinário realizado no Equador, a seleção pernambucana, apelidada de Seleção Cacareco, permaneceu no Equador uma parte de dezembro de 1959 e outra de janeiro de 1960. O apelido foi dado em termos de gozação pelo criativo Aramis Trindade, do extinto Diário da Noite, do Recife, pelo fato de aquela seleção, embora vestisse a camisa da CBD, hoje CBF, não ser a força máxima do futebol campeão do mundo. O técnico Gentil Cardoso trouxe Servílio (quarto-zagueiro do Botafogo), Edson (zagueiro central do América-RJ), Paulo (centroavante do Corinthians) e Goiano (ponta-esquerda do Palmeiras), como reforços. Os quatro estavam no estaleiro no seu respectivo clube.

O time titular, pelo menos o da estreia, respeitando a escalação da época, foi: Valdemar (Náutico) – jogou ainda no Santa Cruz e no  Central; Zequinha (Náutico), Edson (América-RJ) e Givaldo (Náutico); Biu (Santa Cruz ) e Clóvis (Santa Cruz); Traçaia (Sport), Zé de Melo (Santa Cruz), Paulo (Corinthians), Geraldo (Náutico) e Elias (Náutico).

Mesmo não sendo a verdadeira Seleção Brasileira, a Cacareco era muito badalada. Para todos os efeitos, tratava-se do Brasil, que um ano antes espantara o mundo, sagrando-se campeão  em gramados suecos. Os jogadores eram bastante solicitados e muita gente debutava em entrevista na televisão, coisa da modernidade, que já existia no Equador e ainda estava sendo instalada em Pernambuco. O Sul-Americano, com outro formato, era o que é hoje a Copa América. Aquele campeonato, extraordinário, foi programado para fazer os argentinos reaproximarem-se da Confederação Sul-Americana de Futebol (CSAF), com a qual haviam brigado. E deu Argentina na cabeça, ficando o Uruguai como vice e o Brasil em terceiro lugar. Ganhamos do Paraguai e do Equador e perdemos para a Argentina e o Uruguai.   

            Como já foi dito, o campeonato atravessou de um ano para o outro, e no Natal, famílias de Guayaquil convidaram alguns jogadores para suas casas, procurando fazer com isso que eles afugentassem a saudade da família. O goleiro reserva, Valter, foi um deles.

Na residência de um próspero empresário, Valter, maldosamente chamado de Valter Ceguinho, pois dizia-se que mal via a bola em jogos noturnos, logo se enturmou com as filhas do anfitrião. Depois de alguma conversa e alguns aperitivos foi servido o jantar. Todos contentes e sorridentes.

A certa altura o pessoal se assustou quando o brasileiro pediu uma concha para servir-se da fumegante e apetitosa sopa que acabara de chegar à mesa. As mulheres baixaram a cabeça, os homens ficaram de cara vermelha. Valter, cheio de dedos, só veio a entender do que se tratava, quando o dono da casa o chamou a um canto e explicou o significado da palavra concha.

O goleirão ficou mais do que encabulado ao tomar conhecimento de que no Equador, concha é gíria. Ele deveria ter pedido um cucharón  para tirar a sopa da tigela. Lá, a concha que ele queria é... justamente isso o que vocês estão pensando.

(Foto: Arquivo)

 

 

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