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| Reprodução internet |
CLAUDEMIR GOMES
“Nesta terra, em se plantando,
tudo dá!”. A frase, cuja autoria é atribuída ao mensageiro português, Pero Vaz
de Caminha, há mais de 500 anos, tem suas limitações. Limites que foram, e
seguem sendo delineados por uma cultura que é resultante da miscigenação de
raças. Nem tudo que chegou por aqui foi aprovado. Por outro lado, o brasileiro
se mostrou insuperável em outras práticas. No futebol, por exemplo. O esporte
mais popular do planeta nos dias de hoje, foi trazido pelos ingleses, mas ao
ser descarregado no porto da Baía da Guanabara foi adotado pelo samba que lhe
enriqueceu com o gingado dos mestres salas. E as charangas deram vida às
arquibancadas, onde bandeiras eram agitadas num prenúncio de que, grandes
tribos iriam se confrontar num balé mágico, para ver quem seria o dono da bola.
Os registros atestam os fatos
do passado. Mas a história é construída no presente. Os movimentos fazem o
mundo girar. E algumas mudanças, por mais que sugiram movimento e dinâmica,
esbarram na cultura. Tenho visto em alguns jogos do Campeonato Brasileiro e da
Copa do Brasil, um “balé” formado por um grupo de moças conhecidas como
animadoras de torcidas. Nos Estados Unidos são as cheerleaders. Pois bem, elas
ficam por trás da linha de fundo, num canto, imprensadas, dançando e agitando
um “mamãe sacode”, durante os 90 minutos da partida.
Fico a imaginar quem é que
está prestando atenção ao movimento das graciosas bailarinas? Ninguém. Estádios
cheios, jogos eletrizantes, os torcedores não despregam os olhos do que
acontece dentro das quatro linhas. Nos Estados Unidos as cheerleaders viraram
febre.
Tudo começou no Século XIX,
tempo de arraigados preconceitos e discriminações, sendo um esporte restrito
aos homens. Nos anos 30 do Século XX as mulheres invadiram o “Clube do Bolinha”
e tomaram conta da prática. Hoje, existem as disputas de campeonatos nas ligas,
nos colégios e nas universidades. Enfim, quem vai assistir aos jogos de
Basquete, Futebol de Campo, Futebol Americano... acaba sendo premiado com duas
disputas, uma vez que as animadoras dão um show à parte.
As únicas animadoras que
sacudiram o futebol brasileiro foram as TRICOLETES. Em 1980, o visionário João
Caixero de Vasconcelos, reconhecidamente um dos maiores dirigentes da história
do Santa Cruz Futebol Clube, inspirado no que já era sucesso nos Estados
Unidos, montou um quarteto de bailarinas para animar a numerosa torcida
tricolor nos jogos realizados no Estádio do Arruda. As popozudas – Dalva,
Selma, Graciete e Gisele – se posicionavam em quatro tablados colocados
estrategicamente na frente das sociais e dançavam o frevo, o samba, enchendo o
estádio de charme e graça. A torcida tricolor ia à loucura. A sensualidade das
dançarinas tricolores deixou alguns marmanjos com um dilema: não sabiam se
estavam indo para o estádio assistir aos jogos do Santa Cruz, ou para ver as
TRICOLETES. O balé coral foi sucesso nacional. Reportagens nas revistas Placar
e Playboy, aparição em programas de rede nacional e espaços garantidos em todos
os veículos da mídia estadual. Nada contra as animadoras de torcidas, mas acho
que está faltando alguma coisa na conexão que elas buscam com os torcedores.
Até que provem o contrário, até agora, o modelo que deu certo foi o das
TRICOLETES. Golaço de Caixero!

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