Náutico: A MAGIA DOS AFLITOS

 

Reprodução NáuticoNET

 

CLAUDEMIR GOMES


 

Em 1994, quando o Brasil se classificou na fase de grupos, na Copa dos Estados Unidos, o “velho” Mário Jorge Lobo Zagallo, referência de dedicação e amor à Seleção Brasileira, colecionador de títulos como jogador e técnico, deu início a uma contagem regressiva como se fosse um visionário que tinha a certeza da conquista do Tetra.

O Brasil foi somando vitórias, e a cada etapa vencida as atenções se voltavam para aquele que sentia o cheiro do título: “Faltam 4, faltam 3, faltam 2...”. E a contagem virou amuleto da sorte. Quando o Tetra chegou, até Pelé chorou.

Quando o Náutico estreou com vitória -1x0 – sobre o Brusque, no quadrangular que irá definir os clubes que terão acesso à Série B, no próximo ano, eu disse cá com meus botões: “faltam duas!”.

Não me perdi em cálculos, tampouco me concentrei em jogo de mutações. A conta foi simples e exata como manda a matemática, e o resultado não é outro: se fechar os jogos de ida com 9 pontos ganhos, fatalmente o acesso estará nas mãos. Meu otimismo é alimentado por um detalhe que faz toda a diferença: os próximos jogos, contra Guarani e Ponte Preta, respectivamente, serão nos Aflitos. Sei que irão aparecer os céticos, com espírito de porco e boca de praga, para lembrar a fatídica “Batalha dos Aflitos”.

Nada como um banho de sal grosso e uma limpeza com defumadores, receita infalível, da qual o mestre Davi Ferreira – Duque – não abria mão durante a campanha do inigualável Hexa. Hélio dos Anjos sabe que, nessas horas, vale se precaver fechando portas e abrindo caminhos. Conheço os Aflitos desde o final dos anos 60. À época, o Náutico recrutou vários jovens jogadores do Santa Cruz de Carpina: Lula, Zé Leite, Jairo, Wilson, Edvaldo, para reforçar sua equipe juvenil, treinada pelo técnico Cido. Todos eram meus amigos, estudamos juntos, no Salesiano. A concentração dos juvenis era sob o setor de cadeiras no estádio alvirrubro, do qual passei a ser frequentador assíduo. Tive até o privilégio de tomar a sopa do “Puskas”, pois os juvenis também faziam as refeições na concentração dos profissionais, na Rua Santo Elias.

A partir de 1975 passei a frequentar os Aflitos como repórter. Foi quando descobri que a magia dos Aflitos não estava naquele corpo de ferro e cimento, e sim, na alma dos alvirrubros. E ficou a lembrança dos primeiros amigos que o futebol me ofertou: Warlindo, Lulinha, Tico, Anchieta, Pintado, Elói... Não tem como esquecer a laranja, o cachorro-quente, o raspa-raspa, tudo com sobrenome. Os gritos de Zequinha seguem ecoando nos nossos ouvidos. A imortal Lia, que repassava o carinho de mãe para todos os jogadores. Seu Edgar Campos, o pernambucano de vivência carioca, que trabalhou nos três clubes do Recife, mas que adotou o Náutico como “meu”. Citar o monte de jogadores que se tornaram amigos é tarefa quase impossível. Quando o “pajé” Eládio de Barros chegava aos Aflitos parecia o papa quando caminha para missa dominical no Vaticano. O grande Wilson Campos com sua cabeleira branca e reluzente, o carismático Sebastião Orlando, João de Deus Ribeiro, Américo Pereira, Cauby Urquiza, Eduardo Loyo, Antônio Amante, Josemir Correia, João Guerra, Fred Oliveira, André Campos, Ricardo Valois, Sérgio Aquino, Paulo Wanderley... Os Aflitos têm corpo e alma! Mas acima de tudo, tem uma energia irradiante que emana de um amor incondicional.

Quando o estádio está cheio, a conexão que se forma entre jogadores e torcedores leva qualquer adversário a tremer nas bases. Sempre foi assim. E assim sempre será. Para entender tudo que falei é preciso ter testemunhado a entrada da charanga com o trombone de vara solando o frevo Come e Dorme. Era de arrepiar! Bom! Minhas contas sugerem que faltam duas vitórias. Dá-lhe Náutico!

Foto: Náutico-NET

Comentários