A primeira Seleção nunca se esquece


BRASIL-Djalma Santos, De Sordi, Nilton Santos, Zózimo, Roberto Belangero e Gylmar; Sabará, Walter Marciano, Gino, Didi e Canhoteiro (Reprodução)


 

 

LENIVALDO ARAGÃO


PERNAMBUCO-Caiçara, Barbosa, Lula, Aldemar, Mourão e Zequinha; Jorge de Castro, Wassil, Otávio,, Amaury e Dario (Reprodução) 


 

Não apenas pela vitória por 3 x 0 diante do Chile, no Maracanã, mas pelo futebol bem mais brasileiro que jogou, nessa quarta-feira 4/9/2025, a Seleção Brasileira começou a retomar sua antiga ligação com seus milhões de admiradores. Parece que “aquela corrente pra frente” cantada pelo compositor carioca Miguel Gustavo, enaltecendo a equipe de 1970, que daria ao Brasil a terceira Copa do Mundo, está voltando à tona.

Para mim, que sou fã de carteirinha da Seleção, a começar das SUBs, ver o time da camisa amarela jogar, tem um significado especial, Faz-me voltar ao 1º de abril de 1956, quando pela primeira vez vi um jogo fora de minha terra natal, Santa Cruz do Capibaribe, e adjacências. Os poderosos Central, Comércio e Vera Cruz, de Caruaru, só conhecia de nome. América, Náutico, Santa Cruz e Sport, os quatro grandes do Recife, estavam mais distantes ainda.

Reprodução Diário de Pernambuco


Vez por outra ouvia alguém lembrar uma façanha do Ypiranga, atualmente na Série A 2 do Pernambucano 2025. O Alviazulino, fundado em 1938, teve a ousadia de, certa vez,  convidar o Central para um amistoso. Foi um acontecimento na então vila do município de Taquaritinga do Norte e região. Eu ainda não me entendia de gente, mas na minha adolescência ouvi as narrativas sobre a chegada da “embaixada” numa “sopa”, com alguns foguetões dando o aviso sobre sua passagem pela Volta do Serrote, e a nossa tradicional Banda Musical Novo Século se preparando para soltar um dobrado, assim que o time cruzasse o Beco do Padre e penetrasse na Rua Grande. Discurso de saudação aos “ilustres visitantes” foi o que não faltou, sem esquecer a fala de agradecimento, possivelmente a cargo de Chico Porto, caruaruense histórico e folclórico, fundador e orador oficial do Central. No gramado, na realidade, naquele tempo um terreno árido cheio de pedregulho, o goleiro Zé Fuminho e seus companheiros, entre os quais, Zé Rolinha, Pedro Rododó, Macaco, Chico de Basto, Pedro Paulo etc., formaram um paredão e não permitiram a goleada que o célebre Tutu e sua patota certamente esperavam aplicar. Perder por apenas 1 x 0 foi uma glória para o Ypiranga

E como a Seleção Brasileira entra não história? Chegado naquela semana ao  Recife, que ainda não conhecia, não hesitei em comparecer à Ilha do Retiro para ver a Seleção. Assim, aquele amistoso entrou para a história de minha vida.

De passagem para uma excursão à Europa, preparando-se para a Copa do Mundo de 1958, quando seria campeã pela primeira vez, a Seleção Brasileira, comandada por Flávio Costa, o mesmo da Copa perdida para o Uruguai, no Rio de Janeiro, em 1950, fez uma parada no Recife, a pedido do novo presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Rubem Rodrigues Moreira.

O “Escrete” vice-campeão mundial  enfrentou a Seleção Pernambucana, amistosamente, na Ilha do Retiro, e venceu por 2 x 0, gols de Didi, 8 minutos do 1º tempo e Escurinho, 30 segundos do 2. Arbitragem de Horst Harden, um alemão integrante do quadro de árbitros pernambucano. As equipes: PERNAMBUCO-Barbosa (Santa Cruz) – depois Leça (América); Caiçara (Náutico) e Lula (Náutico); Zequinha ç(Santa) – depois Claudionor (América), Aldemar (Santa) e Mourão (América); Jorge de Castro (Santa) – depois Zezinho (América-mais tarde, já no Náutico, apelidado de Caixão), Wassil (Santa) – depois Dimas (América), Otávio (Santa), Amaury (Santa) – depois  Rubinho (Santa) e Dario (América) – depois  Zeca (Santa). Técnico, Palmeira, do América. 

(Os jogadores do Sport não participaram porque o Rubro-Negro estava realizando uma excursão ao Centro-Sul.)

Outros que fizeram parte da lista, mas não chegaram a jogar:

AMÉRICA-Cido (zagueiro) e Roberto (médio)

NÁUTICO-Nenzinho (médio) e Ivanildo (atacante

SANTA CRUZ- Lucas (zagueiro) e Edinho (médio)

FERROVIÁRIO- Renato (goleiro), Geraldo (atacante, mais tarde contratado pelo Náutico) e Baiaco (atacante).

O BRASIL jogou com: Gylmar; Djalma Santos (Paulinho) e De Sordi; Zózimo, Roberto Belangero (Formiga) e Nilton Santos; Sabará (Álvaro), Walter Marciano, Gino, Didi e Canhoteiro (Escurinho). Técnico, Flávio Costa.

O jogo no Diário de Pernambuco (Reprodução)


LEVARAM HAROLDO PRAÇA

Uma curiosidade é que ao embarcar para o Velho Mundo, a delegação brasileira levava um cronista esportivo pernambucano, a convite do presidente da CBD, Silvio Pacheco, que presidia a comitiva. Era o popular Haroldo Praça, da Empresa Jornal do Commercio, hoje Sistema Jornal do Commercio de Comunicação.

Figura popular, chefe da equipe de Esportes da Rádio Jornal, inaugurada em 1948, tinha o apelido de Haroldo Fatia por causa da magreza que carregava no corpo. Ex-jogador do Sport, celebrizou-se por ter sido o autor do gol da vitória do Leão sobre o Santa Cruz por 6 x 5, na inauguração do estádio da Ilha do Retiro, mais tarde denominado Adelmar da Costa Carvalho, na chuvosa manhã domingueira de 4 de julho de 1937.

Haroldo foi homenageado por um de seus amigos, o célebre ANTÔNIO MARIA de Araújo Morais, com atividade intensa em jornal, rádio, televisão, shows etc. Na sua época era um dos mais prestigiados nomes da música popular brasileira. Vivendo no Rio e expressando a saudade que tinha da terra natal, Antônio Maria cantou num dos três frevos-canção que compôs, o Frevo Número Um do Recife: “... Parece que eu vejo Valfrido Cebola no passo / Haroldo Fatia, Colaço / Recife está perto de mim.”  

Deve ter influenciado para o convite a Haroldo Praça a amizade de Sílvio Pacheco com o recém-eleito presidente Rubem Rodrigues Moreira para a presidência da Federação Pernambucana de Futebol, que anteriormente fora, pela ordem, Liga Sportiva Pernambucana, Liga Pernambucana de Desportos Terrestres e Federação Pernambucana de Desportos. Eleito em 1955 presidente da FPF, Rubão, como seria conhecido por dirigentes e jornalistas no Eixo Rio-São Paulo, ensaiava os primeiros passos no panorama da cartolagem nacional. Logicamente, as providências para a viagem de Haroldo Fatia, já tinham sido tomadas, quando Flávio Costa e sua turma aqui chegaram para o amistoso contra os pernambucanos.


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