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ROBERTO VIEIRA – médico e escritor
FOTO: Seleção Carioca no período 1954/55, com a camisa da então Federação Metropolitana de Futebol, quando o Rio ainda era a capital do Brasil. Em pé, Mirim, Ari, Pinheiro, Ivan, Osvaldinho e Nilton Santos; agachados, Garrincha, Ademir Menezes, Leônidas da Selva, Didi e Sabará. Obs.: Mirim e Osvaldinho defenderam depois o Sport, Ademir Menezes foi lançado pelo Rubro-Negro, e Pinheiro foi treinador do Leão e do Náutico. (Acervo Amir Otoni)
ROBERTO VIEIRA – médico e escritor
Duas palavras: Mané Garrincha. A personificação do drible.
O maior ponta-direita da história. O homem que ganhou sozinho a Copa de 1962. O
maior jogador a vestir a camisa botafoguense. Pois em 1955 o Náutico fez os
cariocas, o Botafogo e Mané Garrincha de João.
No dia 6 de março daquele ano, a Seleção Carioca comandada por
Martin Francisco entrou na Ilha do Retiro. Iria enfrentar o campeão
pernambucano, o Náutico. Os cariocas traziam a fina flor do futebol nacional;
Didi, Ademir (pernambucano), Garrincha. O Timbu vinha com Manuelzinho, Gago,
Gilberto Carvalho, Jorginho e Ivson. Estádio lotado. Os rivais pernambucanos
sonhando com uma goleada dos alvinegros. Mas os alvirrubros não dão espaço para
os cariocas. Didi fica preso na marcação. Ademir tenta, mas Manuelzinho está em
dia de Máspoli. Pela direita um duelo à parte: Garrincha e Jaminho. O público
observa aquele estranho ponta de pernas tortas vir driblando, driblando e
parando na classe e determinação de Jaminho. Quando a partida se encerra com a
derrota carioca por 2 x 1, Garrincha aperta a mão de Jaminho e sorri: "Tu joga tanto quanto o
cumpadre Nilton! Hoje eu fui o João!"
Quis o destino que Náutico e Botafogo se encontrassem um mês
depois no Quadrangular de Belo Horizonte, torneio que reuniu também Palmeiras e
Atlético-MG. Garrincha não jogou contra o Náutico. Ficou observando na distância
o Botafogo de Paulo Valentim sendo derrotado pelos gols de Ivson e Hamilton:
Náutico 4 x 2. Com direito a olé.
O ano ia chegando ao seu final. A política nacional era uma
baderna. Jânio Quadros ameaçava renunciar ao governo de São Paulo. JK visitava
o Recife e prometia que em seu governo Pernambuco seria o São Paulo do Nordeste. Não satisfeito, o
Botafogo decidiu excursionar pelo nosso Estado numa revanche contra o Náutico.
No dia 14 de outubro de 1955, o Botafogo do técnico Zezé
Moreira, treinador da Seleção Brasileira na Copa de 54 entra em campo com
Lugano; Oswaldo, Domício e Nilton Santos; Pampolini e Juvenal; Garrincha, João
Carlos (Quarentinha), Caznok, Paulo Valentim e Neivaldo. O Náutico do técnico
José Fiorotti forma com Celso; Caiçara e Lula; Edmilson, Gilberto e Nenzinho;
Guedes, Hamilton, Ivson, Carlos Alberto e Jorginho. Arbitragem do Sr. Willer
Costa. Garrincha estranha a ausência de Jaminho e pensa que vai ter moleza. Mas
Nenzinho gruda nele e quando é driblado surge Lula na cobertura. Caznok, a
grande esperança alvinegra para substituir Dino e Vinícius, negociados com a
Itália, é marcado impiedosamente por Caiçara. Tão impiedosamente que sumiu do
futebol até hoje. Quando Quarentinha arrumava um espaço para o chute, Celso
defendia seguro.
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| Ivanildo, na intimidade, Espingardinha (Arquivo do Blog) |
Aos 10' do segundo tempo, Nilton Santos cochila e Ivson surge
para anotar Náutico 1 x 0. Garrincha olha pro cumpadre desolado. Esse torneio
não tem segundo turno. No banco, Zezé Moreira esbraveja. Perdeu a aposta pra
Fiorotti. O jogo caminha inalterado até o apito final. Pois em 1955 o Náutico
fez os cariocas, o Botafogo e Mané Garrincha de... João.


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