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| Ex-árbitro Arnaldo Cezar Coelho (Reprodução Revista Quem) |
A REGRA NÃO É CLARA
CLAUDEMIR GOMES
“A REGRA É CLARA!” A frase de
autoria do ex-árbitro e comentarista, Arnaldo Cezar Coelho virou um
jargão no futebol brasileiro, e tem sido repetida intensamente como forma de se
questionar as decisões tomadas pelos árbitros, e pelo VAR, que diante da
vulnerabilidade de ambos, transformou a arbitragem na grande vilã da maior
competição do futebol nacional. A regra é clara, mas as múltiplas
interpretações as tornam de difícil entendimento. Eis o Q da questão
transformado num gatilho utilizado por jogadores, técnicos e dirigentes como
arma de ataque, e de defesa, que serve apenas para empanar o brilho do
espetáculo.
O comportamento do jogador
brasileiro é atípico, em comparação ao que assistimos nas competições
internacionais repassadas diariamente pela televisão. Ao longo do tempo foram
criadas “regras” que não constam nos manuais e regulamentos das competições, mas
que foram anunciadas, em um vestiário qualquer, não se sabe onde, nem quando, e
todos passaram a seguir. Foram postas em prática a partir do “ouvi dizer”. Se
tornou praxe: “o árbitro nunca expulsa na primeira falta”. Ora, se for uma
falta cuja penalidade merecida é o cartão vermelho, aplique-se o mesmo.
Um dos lances mais polêmicos
da última rodada do Brasileiro, disputada no final de semana, foi o carrinho
dado pelo zagueiro do Palmeiras, Gustavo Gómez, que acertou a canela do
jogador, Wanderson, do Cruzeiro. A comissão de arbitragem da CBF não viu erro
na interpretação do árbitro, Rafael Rodrigo Klein, que não expulsou o jogador
palmeirense. Entretanto, a regra é clara: “Carrinho só não é passivo de cartão
vermelho se o jogador atingir, única e exclusivamente a bola”, o que não foi o
caso. O defensor do time paulista atingiu a bola e o adversário.
Até os anos 80, do século
passado, o carrinho que levava o jogador a ser expulso era dado por traz. O
volante Lourival, do Náutico, símbolo da garra alvirrubra para uma geração, era
mestre em dar carrinhos. Louro utilizava tal recurso com uma maestria invejável.
Entretanto, nos dias de hoje, se a regra fosse aplicada com clareza, ele
fatalmente seria advertido com o cartão vermelho na maioria dos jogos que
disputasse. A interpretação de regra no futebol brasileiro é mais complicada do
que a interpretação de texto na língua portuguesa. Problema dos vícios de
comportamento, e dos vícios de linguagem.
A malandragem faz parte do
aprendizado do jogador brasileiro. O talento vem de berço, evidentemente, mas
as manhas, as simulações e a desfaçatez fazem parte das matérias repassadas nas
categorias de base. Cursos e seminários são anunciados com frequência para
árbitros nacionais, mas a tão desejada padronização da arbitragem, na prática,
não é observada, fato que nos deixa com a certeza de que a regra não é tão
clara, como nos assegurava Arnaldo Cezar Coelho.

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