MUNDO DA BOLA- Lenivaldo Aragão

 A pendenga do alvirrubro Elói com os juízes e sua estranha lesão num clássico


Na foto, uma formação do Náutico, na época de Elói:  em pé, Gradim (técnico), Miro (massagista), Gilson Pé de Bombo, Gena, Sidcley, João Paulo, Romero e Helinho; agachados – Paraguaio, Dedeu, Edvaldo, Zezinho Caicó e Elói. (Arquivo do Blog)

 



Baixinho e veloz, o ponta-direita Elói teve uma excelente fase no Náutico. Nele caía integralmente aquele ditado “filho de peixe, peixinho é”. Seu pai, também de pequena estatura, igualmente chamado Elói, antes de o filho se fazer de gente, havia brilhado intensamente no futebol pernambucano, jogando em qualquer posição do ataque. Defendeu o Santa Cruz, de 1946 a 1951, o Íbis e o Gert Western, tendo sido da Seleção Pernambucana no Campeonato Brasileiro de Seleções em 1950. Portanto, o personagem desta história tinha a quem puxar.

Certa vez Elói, o filho, estava discutindo a renovação de contrato com o Náutico, e sua proposta foi considerada alta. O colunista Lula Carlos, um gozador nato, inventou na sua coluna no Diário da Noite, que o jogador tinha alegado que era “beleteria”, por isso merecia um bom aumento. Pura – ou impura? – maldade  Elói nunca disse isso.  Nem diria. Na época fazia faculdade, cursando educação física. Sabia onde tinha o nariz e não cometeria tamanha heresia. Mas entrou no folclore do futebol.

Encerrado seu ciclo no Náutico,  Elói, já  universitário, passou a defender o América. Como achasse que o Alviverde era sempre perseguido pelas arbitragens quando enfrentava os grandes, frequentemente ia às turras com o árbitro. E tome cartão,

Corria o Campeonato Pernambucano de 1974. Segunda fase do primeiro turno. O América de Carlos, Teco, Nilo, Antonino e Braulino; Otávio e Ronaldo; Elói, Jailson, Evandro e Batoré  enfrentava o Náutico, justamente o ex-clube de Elói. Que foi expulso de campo pelo juiz Aléssio Siqueira. Motivo: ofensa moral à Sua Senhoria, o homem do apito.

Mais tarde, já no returno, novo Clássico da Técnica e da Disciplina. Agora o árbitro era Gilson Cordeiro, formado em direito e jornalismo e  delegado de polícia.

Como sempre, Elói implicava com  o juiz. Este, fazendo que não era com ele, ia levando por menos. Em dado momento, Elói extrapolou e tome advertência, via cartão amarelo.

Posteriormente, num momento em que Gilson foi puxar o cartão amarelo, o vermelho caiu-lhe do bolso. Elói não teve dúvida. Resolveu ir à forra na sua eterna pendenga da arbitragem, levando o juiz ao ridículo. Mais que depressa, apanhou o cartão, amassou-o e atirou-o para fora do gramado. Um repórter apanhou e entregou-o ao árbitro. Este não perdeu tempo. Imediatamente  passou o vermelhão nas fuças do ponta desaforado, que foi tomar banho mais cedo do que os outros jogadores.

Mas, voltemos aos Aflitos. Num Clássico dos Clássicos, por ser rápido e driblador, Elói era o caminho para o Náutico chegar à área do Sport. Em dado momento, o técnico Nelson Lucena queria mais velocidade de seu ponta-direita nas penetrações. Gesticulava o mais que podia, porém, seus acenos não eram percebidos pelo jogador. O treinador pretendia que Elói chegasse mais vezes à linha de fundo. Como não fosse correspondido porque suas instruções não chegavam ao ponta, o jeito foi movimentar o massagista Miro para passar o bizu.

Miro era uma figura folclórica. De porte atlético, fazia ginástica diariamente, e quando entrava em campo para socorrer algum atleta, dava o maior pique, fazendo uma parada brusca junto do lesionado. Às vezes ainda divertia o torcedor com uma cambalhota. Arrancava risos e aplausos da arquibancada e da geral. Naquele jogo, o massagista alvirrubro, conforme a ordem que lhe tinha sido dada, deveria chegar de mansinho junto à linha lateral e avisar a Elói para na primeira disputa de bola cair em campo, fingindo uma contusão. Então, ao ser medicado de mentira, receberia a instrução, da boca do médico José Omar Braga. Era uma malandragem comum, a que todos recorriam. Miro não demorou  para dar o recado a Elói.

Assim, não tardou para que o talentoso jogador se esparramasse no chão após um choque banal com um jogador do Sport. Até aí tudo bem, já que a encenação estava sendo perfeita.

Porém, não foi pequena a surpresa de Nelson Lucena ao ser informado pelo médico, da necessidade de providenciar imediatamente a entrada de outro jogador no lugar de Elói, que não tinha mais condições de voltar a campo.

“Como, se tudo havia sido combinado para ele simular a contusão?” – perguntava-se intrigado o treinador, sem entender bulhufas do que estava ocorrendo.

Foi quando, microfone aberto, o repórter Vitório Mazile quis saber do médico o que havia acontecido com Elói.

“O jogador ao cair no gramado não demonstrara ter sofrido uma lesão tão séria”, argumentou o repórter.

José Omar Braga não se fez de rogado e no seu jeito bem peculiar explicou:

“Esse meu desavisado massagista chegou numa carreira danada e machucou o atleta.”

No seu ímpeto, o velocista Miro havia esquecido de pisar no freio, acabando por meter o pé no lugar errado, ou seja, no tornozelo de Elói. O jogador abandonou o jogo com uma entorse que não estava no seu programa. Nem do técnico Nelson Lucena.


 

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