A FORÇA DA RIVALIDADE
CLAUDEMIR GOMES
Numa rápida olhada na tabela de classificação do Brasileiro da Série A, observamos que, dos dez clubes atualmente no Top 10, oito pertencem ao eixo Rio-São Paulo. Os estranhos no ninho são o Cruzeiro e o Bahia. O fato referenda os dois estados como sendo os maiores centros do futebol nacional, e alimenta a maior rivalidade existente no País do Futebol.
Dizem
que, quem inventou a rivalidade foram cariocas e paulistas. Uma rixa que
começou no Século XIX e segue nos dias de hoje com a certeza de que nunca
haverá um ponto final. Funciona como mola propulsora. A decisão da Libertadores
2025, entre Flamengo e Palmeiras, que também brigam pelo título do Brasileiro,
é o maior atestado desta queda de braço sem fim.
Os
relatos da história são controversos. Há registros de que, no final do Século
XIX aconteceram várias disputas de futebol amador no Rio de Janeiro. Mas
ninguém contesta o fato de que foi o paulista Charles Miller quem trouxe a
primeira bola de futebol para o Brasil. Os primeiros jogos oficiais foram
disputados em São Paulo.
Uma
outra versão assegura que os ingleses trouxeram o futebol e fizeram de Curitiba
a porta de entrada do esporte mais popular do País. Bom! Os paranaenses não
quiseram entrar na disputa pela “paternidade” e deixaram paulistas e cariocas
se engalfinharem. Dessa forma se tornaram os precursores de uma rivalidade
antológica, que ao longo do tempo trouxe benefícios, mas também causou muitos
danos.
A
rivalidade entre as duas maiores escolas do futebol brasileiro ficou bem
explicita através da Seleção Brasileira. Apenas um jogador de São Paulo –
Araken Patusca– foi convocado para disputar a Copa de 1930. A Federação
Paulista de Esportes Atléticos (FPEA), se recusou a ceder jogadores. Araken foi
inscrito pelo Flamengo. Durante duas décadas – 1978 a 1998 – acompanhei os
passos da Seleção Brasileira em competições oficiais e amistosos, no Brasil e
no exterior como enviado especial do Diário de Pernambuco. O perrengue entre
cariocas e paulistas chegava a ser cômico. Mas em algumas situações era
trágico.
A
imprensa carioca ressaltava os feitos dos jogadores que defendiam os clubes do
Rio de Janeiro. Por sua vez, a imprensa paulista só tinha olhos para os
profissionais dos clubes bandeirantes. A CBD, que depois passou a ser CBF, não
adotava técnico de São Paulo. O primeiro treinador paulista a dirigir a Seleção
Brasileira na era da CBF foi Emerson Leão. O fato de a cidade do Rio de Janeiro
ter sido a Capital Federal até 1960, levou o pêndulo da balança a se mover para
o lado do futebol carioca. A CBD tinha seu domicílio na Rua da Alfandega, ou
seja, estava lado a lado de todos os poderes. O Maracanã, um dos templos do
futebol mundial fora construído na Cidade Maravilhosa, onde tudo pulsava com
uma energia contagiante.
A
primeira edição do Mundial de Clubes promovido pela FIFA reuniu 32 equipes. O
Brasil esteve representado por Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Botafogo (um
paulista e três cariocas). Desde a época em que o futebol era um esporte
praticado por uma elite social, que não aceitava negros, a rivalidade entre
cariocas e paulistas é utilizada como vetor de crescimento. Futebol sem
rivalidade é igual a sanduíche de pão recheado com pão.


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