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Ilusória comemoração do gol do Sport (Foto: Genival Paparazzi)



PROCLAMAÇÃO DO FRACASSO



CLAUDEMIR GOMES



 

O 15 de novembro de 2025 entrou para a história do Sport Club do Recife como sendo o Dia da Proclamação do Fracasso. A humilhante goleada (5x1) sofrida para o Flamengo, maior “inimigo” do rubro-negro pernambucano foi o carimbo no passaporte do Leão da Ilha do Retiro, que retornará à Segunda Divisão Nacional carregando o fardo da pior campanha descrita por um clube desde que a competição passou a ser disputada pelo sistema de pontos corridos.

Tenho por hábito escrever ouvindo uma boa música. Ligo o rádio baixinho, sempre sintonizado na Tribuna FM. O ritual é repetido de forma automática. Pois bem! Hoje (16/11/2025) quando liguei o rádio a voz, super afinada da Gal Costa ecoou: “Dessa vez doeu demais”.

Uma dor que só o torcedor sabe entender. É ele que vivencia esse amor incondicional. Um dos porteiros do prédio onde moro se chama Carlos. Rapaz simples, trabalhador honesto, focado no bem-estar da família, um sujeito do bem. Todos os moradores gostam dele. Vive em permanente briga com a balança, mas seu sobrepeso só faz aumentar. Isso não o impede de estar sempre vestido com uma camisa do Sport. O silêncio, e a tristeza estampada no seu semblante, revelavam seu estado de espírito. “Não dá pra disfarçar”, como bradou a diva Gal, ao sentir a dor do amor.

O público na Arena Pernambuco para assistir Sport 1x5 Flamengo foi de 19 mil pagantes. Segundo os promotores do evento, 15 mil eram torcedores flamenguistas e 4 mil masoquistas do Sport. Não posso chamar esses torcedores leoninos de heróis por achar que, quem paga para sofrer tem algum distúrbio emocional. Freud explica. Máximo respeito a todos por terem se tornado testemunhas oculares de um capítulo tão infeliz da história do Sport. Fato inédito: pela primeira vez em mais de cem anos, o Sport enfrenta um adversário de outro Estado no Recife, e sua torcida foi numericamente inferior à torcida visitante.

“Crônica de uma morte anunciada”, como diria o grande, Gabriel Garcia Marquez. Desde cedo sabemos que para tudo existem duas medidas. A regularidade pode determinar o sucesso de um time numa competição, assim como pode selar o seu fracasso. A campanha do Sport é o grande exemplo. O rubro-negro pernambucano será rotulado como o clube mais longevo na lanterna da Série A. Da terceira à trigésima-oitava o Leão se manteve estático na posição. Não deixou a última casa da tabela uma vez sequer. Regularidade maior não existe. Pior ataque, pior defesa, pior saldo de gols, pior aproveitamento. É o Leão cantando Jackson do Pandeiro: “É de pió a pió a cantiga da perua é uma só”.

Quem foi na conversa do presidente Yuri Romão e seus pares, que andaram pregando que a coisa ia melhorar, se deparou com a triste realidade dos fatos. Fake News tem pernas curtas. Com a Proclamação do Fracasso, Yuri Romão entra para a centenária história do Sport como o Presidente da Lanterna. Nada mais justo para selar sua incompetência. Afinal, ele não teve a sensibilidade para assimilar o básico: “A bola pune!”. Ela pune a incompetência e a soberba. Mistérios do futebol que bruxos, filósofos, monges, orixás, psicólogos, sociólogos, antropólogos, não conseguiram decifrar.

A bola é lisa, escorregadia e volátil como a beleza dos falsos encantos. Terça-feira tem mais: o Leão vai ao Rio enfrentar o Botafogo no Engenhão. A Proclamação do Fracasso já aconteceu. O resto é complemento.

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