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Por CLAUDEMIR GOMES
O Natal chega sempre embalado
por um clima de nostalgia. Nas asas da saudade percorremos um passado que não
volta mais. Dormi deslumbrado com a bela iluminação nas ruas do Recife. Acordei
cedo e me deparei com um cidadão fantasiado de Papai Noel. Olhos tristes, andar
cadenciado, parecia carregar o peso do mundo inteiro nas costas. Me disse que
ia trabalhar numa loja próxima ao Mercado de São José. O coitado passa o dia
ouvindo aquela música: “Então é Natal...”.
Tens recebido muitos pedidos?
Lhe perguntei, e antes de ouvir a resposta emendei: na minha infância meus pais
sempre me levavam para falar com um Papai Noel que ficava na Viana Leal,
primeira loja a ter uma escada rolante na cidade. Ele sorri e observa: “Os
tempos mudaram”. Rimos juntos e seguimos nossos caminhos. Os tempos mudaram!
Nos anos 60 do século passado, quando surgiram as primeiras sandálias plásticas, coloridas, causaram uma revolução no universo machista. A época, lá em Carpina, se dizia que aquilo era coisa de “fresco”. Ninguém usava as palavras gay ou homossexual. Era fresco ou viado. Tudo era encarado com muita naturalidade. As sandálias de plástico e coloridas não eram conhecidas pelas marcas, todas eram Sandálias Japonesas. Conquistaram o mercado rapidamente
Logo os machões se renderam à
funcionalidade e conforto dos novos calçados. A gente podia calçar sandálias
amarelas ou vermelhas. Nada ia de encontro às botinas pretas do Papai Noel, que
pareciam mais os coturnos dos militares. Nunca perguntei, mas acredito que, o
Papai Noel da Viana Leal tenha recebido muitas cartinhas pedindo um par de
sandálias japonesas. O Negão usava sandália vermelha e pisava forte com o pé
direito!
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Nos dias de hoje a frase leva
qualquer cidadão para o xilindró. Mas em tempos de Sloper, Viana Leal, Casa
Matos, Motinha, Casa Esperança e a Girafa, tudo acabava num chope, no Savoy, ou
na Botijinha. Quantas vezes se ouviu dizer que: fulano é o braço direito de
cicrano na firma. Mas agora, o comercial da Sandália Havaiana, que há muito
exibe a bandeira brasileira, anulando o rótulo de sandália japonesa, num show
de criatividade, cria o maior rebuliço no “Brasil da Intolerância”.
Num passado recente, os
jogadores sempre embarcavam nessa de superstição. Muitos só entravam em campo
dando três pulos com o pé direito. Cruz credo! Até isso politizaram. Falando cá
com meus botões, lamentei por não existir mais o Papai Noel da Viana Leal.
Confesso que iria perguntar a ele se o Sacy Pererê tem a perna esquerda ou a
perna direita? É mais fácil se chegar a um consenso sobre o sexo dos anjos. A
turma do cordão vermelho diz que o Sacy tem a perna esquerda. O bloco amarelo
assegura que é a perna direita. Um grupo que caminha sempre no vácuo formado
entre o vermelho e o amarelo, observa que o Sacy nasceu com a perna no centro.
Portanto, nem é de direita, nem de esquerda. Para acabar com a discussão, Papai
Noel encomendou uma alpercata de couro com fivelas nos dois lados. Feliz Natal
!

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